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O “gol fantasma” de Hoffenheim

Na partida que abriu a 9ᵃ rodada da Bundesliga, o Bayer Leverkusen venceu o Hoffenheim por 2 a 1 e assumiu, temporariamente, a liderança do campeonato. Tudo normal, se não fosse por um detalhe relativamente importante no futebol: a bola do segundo gol do Leverkusen não entrou. Não que tenha sido uma decisão difícil, com a bola pingando um pouco depois da linha da meta ou que o árbitro Felix Brych estivesse com a visão encoberta. Nada disso! Aos 26 minutos do segundo tempo, o atacante Stefan Kießling cabeceou, após cobrança de escanteio, e a bola passou uma distância considerável à direita da trave do goleiro Koen Casteels do Hoffenheim. A bola só chegaria a tocar na rede já quase na junta entre a lateral e os fundos do gol, onde um furo não havia sido detectado – outro erro que vai também na conta do trio de arbitragem. Com a bola dentro do gol e a falta de reclamação dos jogadores do Hoffenheim, que em sua maioria estavam de costas para o lance, o gol foi validado. Uma cena bizarra, mas não inédita no futebol alemão e que em outras épocas foi motivo para a anulação e a repetição de uma partida.

Após a partida o árbitro Felix Brych explicou o ocorrido: “foi uma situação difícil e eu tinha minhas leves dúvidas, mas a reação dos jogadores foi sintomática. Não havia nenhum sinal de que tinha sido um gol irregular. Por isso, eu dei o gol.”

Autor do gol que não foi, Kießling se mostrou surpreso com a validação: “no primeiro momento eu pensei que a bola não ia entrar, mas daí eu vi ela deitada dentro do gol. Falei para o árbitro que eu estava surpreso, mas que não havia visto direito. Quando eu vejo algo eu sempre ajo com sinceridade. Mas eu não vi o lance, porque eu virei o corpo com o movimento do cabeceio. É uma situação chata para mim. Eu fui bastante xingado pelos torcedores, por mais que eu não tenha culpa”.

Porém, o treinador do Hoffenheim, Markus Gisdol, não quer ouvir pedidos de desculpas. Para ele só há uma única solução para o caso: “nós não estamos no século 5. No final das contas o que deve prevalecer é o fair-play. Eu penso que teremos esta partida novamente. Estou convencido que isto é o que vai acontecer. Qualquer outra coisa seria uma piada. Este jogo não pode ser validado. E tem a precedência do caso Helmer”.

Casos famosos que envolvem a Alemanha

Na Alemanha, um gol que não entrou é chamado de “gol fantasma” e nesta categoria existe um em especial que é legendário. No dia 23 de abril de 1994, o Bayern de Munique recebeu o FC Nürnberg no antigo Estádio Olímpico de Munique. E aos 26 minutos de jogo, o zagueiro Thomas Helmer, após cobrança de escanteio, se enrola com a bola e empurra ela, rente a trave, para fora. O assistente avisa o árbitro, que dá o gol. O Bayern venceu por 2 a 1, mas a partida seria repetida, com nova vitória bávara, desta vez por 5 a 0.

A atitude que Stefan Kießling não teve, um outro atacante do Bayer Leverkusen, na temporada 1980/1981, teve. No confronto contra o atual campeão Bayern de Munique, o norueguês Arne Larsen Ökland anotou todos os três gols na vitória por 3 a 0. E se fosse pelo árbitro Udo Horeis, teria sido 4 a 0. Depois que Horeis havia confirmado o gol, o jogador foi até o árbitro e o informou que a bola havia entrado por fora do gol. Um gesto esportivo, mas raro, e o árbitro estendeu a mão e cumprimentou Ökland, agradecendo-o. Horeis marcou então tiro de meta. A cena, a partir do minuto 3:05, no vídeo abaixo.

Outro “quase-gol” famoso é o de Christian Tiffert. Em janeiro de 2010, o meia do MSV Duisburg arriscou um chute por cima do goleiro do FSV Frankfurt, a bola bateu no travessão e (muito) fora do gol.

A discussão mais famosa sobre se a bola entrou ou não, é certamente o gol de Geoff Hurst, na célebre final entre Inglaterra e Alemanha. Aos 11 minutos do primeiro tempo da prorrogação, o inglês anotou o terceiro gol e abriu o caminho para o único título mundial da Inglaterra. Foi feito até um trabalho científico para identificar e constatar a legalidade do gol.

Por outro lado, existe a categoria dos gols que não foram dados, mesmo com a bola dentro da meta. O lance recente mais famoso é o da Copa do Mundo de 2010, quando Jorge Larrionda não validou o gol de Frank Lampard no jogo Inglaterra e Alemanha.

Pedido de repetição da partida deve ser negado pela Fifa

Quanto mais vai demorar para que a Fifa e a International Board – órgão que regulamenta as regras do futebol – aceitem, implementem, incorporem e promovam a tecnologia da linha do gol? Ninguém está pedindo para que as partidas sejam interrompidas a cada cinco minutos para analisar cartões, faltas duras ou agressões. Apenas os cinco segundos necessários para que alguém diga no fone de ouvido do árbitro se a bola entrou ou não. Em prol do fair-play e do espírito esportivo, o futebol precisa se adaptar a modernidade e a gigantesca exposição nas mídias. Além do mais, seria uma tremenda ajuda para os árbitros que precisam lidar, praticamente sozinhos, com as críticas e a pressão da sociedade. Não esqueçamos a tentativa de suicídio em novembro de 2011 do árbitro alemão Babak Rafati, que depois afirmou que não estava mais conseguindo lidar com a pressão.

A partida entre Bayer Leverkusen e Hoffenheim, ao que a tendência indica, não será repetida. O Hoffenheim já entrou com protesto na Liga de Futebol da Alemanha (DFL), mas os casos sempre são transferidos para a Fifa, que é reticente e em todos os pedidos de repetição de jogos negou, declarando os resultados de campo como válidos. “Eu acredito que, por mais que ela possa ser às vezes injusta, a decisão factual é um tremendo bem em nosso país”, declarou Andreas Rettig, presidente da DFL. Além disso, há o argumento de que o furo na rede também é responsabilidade – e por tabela culpa –  do clube da casa, no caso o próprio Hoffenheim.

Todo este imbróglio e discussão não seria necessário se, nesta sexta-feira à noite, o árbitro Felix Brych tivesse tido a chance de consultar o sistema de câmeras na Wirsol Rhein-Neckar Arena, em Hoffenheim.

Data

19/10/2013 | 18:39

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